sábado, 15 de dezembro de 2012

Saúde Pública e o Crack

Por Luciula Valença                                                            15/12/2012 - 06h30
sdesaude.luciulavalenca@hotmail.com

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existam no Brasil 6 milhões de usuários de crack. Porém o ministério da saúde contabiliza 2 milhões de usuários. Em contrapartida estudos da Unifesp demonstram que um terço dos usuários encontra a cura, outro terço mantém o vicio/dependência e o outro terço morre, mas em 85% dos casos estes usuários estão relacionados com a violência.

A planta Erythroxylon Coca, comumente conhecida como coca, era utilizada pelos índios da América do Sul. A Europa só veio a conhecer a coca no começo do século XIX, quando foi levada para a Inglaterra pelo Jardim Botânico Real. Em 1980 foi comercializada na Europa em forma de chá, cuja produção, e, comercialização era feita no Peru com licença farmacêutica e trazida para Europa com fins medicinais. A partir da década de 50 com o movimento hippie e a repressão vivida pela Guerra Fria houve uma aproximação marginal da sociedade. A partir da década de 70 a Colômbia profissionalizou o narcotráfico a partir das suas experiências com o contrabando de ouro e esmeraldas, e, utilizou suas conexões com a distribuição da maconha distribuindo cocaína no território norte-americano. No Brasil, a droga chegou no início da década de 1990 e se disseminou inicialmente em São Paulo. Hoje, a droga está presente nos principais centros urbanos do País e é uma questão de saúde pública.
O crack é seis vezes mais potente que a cocaína, provoca dependência física e leva a morte devido a sua ação fulminante sobre o sistema nervoso central e cardíaco. Trata-se da mistura de cloridrato de cocaína (cocaína em pó), bicarbonato de sódio ou amônia e água destilada. Após inalação leva 15 segundos para chegar ao cérebro. A ação do crack no cérebro dura entre cinco e dez minutos, período em que é potencializada a liberação de neurotransmissores como dopamina, serotonina e noradrenalina, ao percorrer a corrente sanguínea o usuário sente-se energizado, mas dependendo da quantidade pode provocar os seguintes efeitos: Forte aceleração dos batimentos cardíacos; Aumento da pressão arterial; Dilatação das pupilas; Suor intenso; Tremor muscular; Excitação acentuada; Sensações de aparente bem-estar; Aumento da capacidade física e mental; Indiferença à dor e ao cansaço; Inquietação psicomotora (dificuldade para permanecer parado, até quadros mais sérios de agitação); Aumento do estado de alerta e inibição do apetite; Alterações do humor; Euforia (desinibição, fala solta) a sintomas de mal-estar psíquico (medo, ansiedade e inibição da fala).
Sendo uma questão de saúde pública foi lançado no Brasil o programa Crack, é possível vencer (2012), trata-se de uma ação interministerial que conta com os ministérios da Justiça, da Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, além da Casa Civil e da Secretaria de Direitos Humanos. Já aderiram ao programa os estados de Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Acre, Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Piauí, Paraná, Ceará, São Paulo e recentemente Distrito Federal. O governo federal pretende investir 4 bilhões no Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas eu fundamenta-se com a ações conjuntas em três eixos: CUIDADO, PREVENÇÃO, SEGURANÇA PÚBICA.
A rede de atendimento oferece além dos CAPS e leitos para internação, outros programas voltados aos dependentes de álcool e drogas. São eles: Casas de passagem: moradia transitória para pacientes que iniciaram o tratamento para dependência, mas necessitam de um espaço protegido para viverem durante um período limitado; Consultórios de Rua: formado por uma equipe de psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais para atender principalmente pessoas que moram nas ruas e que não costumam freqüentar os serviços de saúde; Articulação saúde, arte, cultura e geração de renda: parceria importante estabelecida foi feita entre os ministérios da Saúde, da Cultura e do Ministério do Trabalho e Emprego. Até o momento, o MS apoiou 342 iniciativas; Centros de Convivência e Cultura: oferece especialmente aos usuários da saúde mental, espaços de sociabilidade, educação, produção cultural, sustentação das diferenças e intervenção na cidade. Existem 52 em funcionamento no país; Núcleos de Apoio à Saúde da Família: atualmente, NASFs estão implantados no país, com profissionais de saúde mental – assistentes sociais, psicólogos, médicos psiquiatras e terapeutas ocupacionais.  
O sistema de tratamento inclui INTERNAÇÃO, TRATAMENTO AMBULATORIAL, incluindo técnicas com tratamento psicoterápico, medicamentoso e auto-ajuda. O usuário utiliza uma abordagem interdisciplinar e rede integrada de atenção psicossocial através de:
Ações preventivas: sensibilização e capacitação dos profissionais de saúde e educação
Identificação precoce e encaminhamento adequado
Desintoxicação: tratamento e suporte sintomático
Tratamento das comorbidades: clínicas e psiquiátricas.
Estratégias de psicoeducacionais: trabalhar fatores de risco
Grupos de auto-ajuda
Acompanhamento ao longo do tempo na Estratégia Saúde da Família
Abordagens psicoterápicas por profissionais habilitados, terapias individuais, grupais
Terapia cognitiva comportamental.
Treino de habilidades sociais e prevenção de recaídas
Reabilitação neuropsicológica e psicossocial
Redução de danos  com base em evidências médicas e legais
Rede de atenção: leitos em hospitais gerais e psiquiátricos para desintoxicação, ambulatórios, CAPS AD, albergamento sócio-terapeutico e moradias assistidas (todos com infra-estrutura para correta abordagem terapêutica).

Com a crise econômica mundial, o baixo custo da droga e a marginalização social o crack tornou-se bastante popular ocorrendo uma explosão consumista pela droga especialmente em países capitalistas desenvolvidos representando a decomposição social onde a principal mercadoria é a autodestruição. O sucesso deste programa dar-se-á quando além da adesão voluntária dos dependentes, as ações estiverem voltadas na atenção a diversidade dos problemas, bem como a saúde mental e física, social, familiar, profissional, conjugal, criminal entre outros. O crack não é um problema seu, é nosso. E toda a sociedade deve agir com promoção e prevenção da saúde pública, assim como ocorre em outras campanhas como a dengue. Pois, é possível vencer !!!

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